A velha Luciana tinha um galo que muito estimava, mas um galo com cores diferentes dos outros. As penas eram douradas, o bico azul e a crista roxa, sempre levantada. Era um galo extraordinário!
Mas como apareceu um galo tão diferente no lugar da Ordem, concelho de Baião?
A velha Luciana todos os anos agarrava numa galinha choca colocava-a por cima de dúzia e meia de ovos e aconchegava-os na cozinha debaixo do forno, livrando-os assim dos dias rigorosos de inverno que se sentem no Marão.
Três semanas depois nasciam lindos pintos.
Durante quatro meses eram muito bem alimentados e transformavam-se em belos frangos grandes e gordos. O destino dos frangos era a sua venda na feira. Com o dinheiro que recebia da venda dos frangos fazia compras e regressava já noite a casa.
Mas um ano em que a neve e o frio se instalaram pela serra do Marão, dos ovos que estavam debaixo da galinha choca, só um ovo estalou.
A velha triste e desiludida, nesse ano não podia ir à feira. Dessa ninhada só um pinto nasceu. Era um pinto mudo e careca.
Ninguém gostava do pinto. Era um franganote só com ossos cobertos de pele, sem pêlos, nem penas.
Mas, numa tarde fria do mês de março a velha Luciana acendeu a lareira e depressa adormeceu na sua preguiceira. Inesperadamente, uma brasa saltou da lareira para cima de um prega da saia preta e comprida. A saia começou a arder. Nesse instante, o frango mudo e careca entrou na cozinha a fugir de um galo que lhe deu uma valente bicada. Ao ver tal coisa e sem medo começou a dar bicadas nas pernas magras da velha que rapidamente acordou e tratou de apagar as chamas que lhe consumiam a saia.
Passado o susto, a velha pegou no frango, acariciou-o e chamou-lhe galaró amigo.
O galo arrepiou-se todo e cantou assim:
-Totatitetuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
A partir deste dia começou uma grande amizade entre o frango e a velha Luciana.
Desde esse dia começou a ter mais comida e em poucas semanas cresceu e engordou. Era um galo, mas sem penas, mas com um cantar maravilhoso. De tão gordo e sem penas mais parecia um nabo com patas.
Um dia o galo foi até ao quintal apanhar sol e começou a esgaravatar a terra.
Depois de ter feito um grande buraco, notou que lá no fundo alguma coisa reluzia. Tentou engoli-la, mas ficou engasgado e muito aflito. Tanta força fez que ficou sem ar e desmaiou. Passou por ali a velha Luciana que ao ver tal coisa ficou muito assustada. Pegou nele, levou-o para a cozinha e deu-lhe água. Lá no fundo do bico aberto, a velha Luciana enfiou os dedos e de lá tirou uma moeda de ouro que lhe tinha oferecido o pai há muitos, muitos anos atrás. Tinha-a perdido há muito tempo.
O galo continuou desmaiado e a sua dona só pensava que o seu carequinha ia morrer. Com os olhos cheios de lágrimas aconchegou o galo num caixote por baixo do forno de cozer o pão.
No dia seguinte, quando chegou junto do caixote carunchoso o galo estava vivo e bem diferente.
Tinha o bico azul, a crista roxa e o corpo coberto de penas sedosas e douradas. A velha Luciana ficou felicíssima, pegou no galo, encostou-o ao peito e correu a mostrá-lo a todos os vizinhos do Lugar da Ordem.
Quando a velha mostrava o galo e lhe pedia para cantar, ele levantava uma asa,uma pata, endireitava o pescoço e cantava.
Todas as pessoas queriam um galo igual, outros achavam que a velha Luciana o devia vender por um bom dinheiro e comprar coisas mais importantes.
A velha Luciana ouvia todos, mas não seguia os conselhos de ninguém.
Não havia dinheiro que pagasse a amizade que ela tinha pelo galaró.
O galo havia de viver sempre com ela.
Sem comentários:
Enviar um comentário